CURRÍCULO RELACIONAL NA AMAZÔNIA: A DESNATURALIZAÇÃO DA ORFANDADE EDUCATIVA NA DIVERSIDADE
DOI:
https://doi.org/10.23925/1809-3876.2018v16i4p1485-1511Palavras-chave:
EJA, prática docente, diversidade curricular, formação e alfabetização, órfãos das letrasResumo
Este trabalho revela a investigação sobre uma prática docente extensionista desenvolvida na Tríplice Fronteira Brasil-Peru-Colômbia-Sudoeste do Amazonas. Estuda um conjunto de alternativas curriculares para a formação de professores alfabetizadores de jovens, adultos e idosos denominados aqui de “órfãos das letras” na diversidade étnica amazônica, sob a ótica dos sujeitos e gestores públicos no período de 2003 a 2010. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, desdobrada em vários momentos deste trabalho, ora buscando desvelar a política de superação do iletrismo ora expondo os fenômenos naturalizados no contexto da educação dos povos da floresta na Amazônia profunda. No primeiro momento apresentamos o contexto da ação na contradição da exuberância regional, ao mesmo tempo em que constatamos o abandono das populações tradicionais, subtraídas dos seus direitos mais fecundos como educação e saúde. A base teórica apoiou-se nas contribuições de Paulo Freire, Karel Kosik, Samuel Benchimol, Triviños, Michel Lowy, Gimeno Sacristán, Gonzáles Arroyo, bem como nos documentos oficiais: “Cartas do Amazonas”, “Espaço do Alfabetizador”. Foi possível reconhecermos a possibilidade do ensino não cartilhado e a valorização dos saberes das comunidades tradicionais na cotidianidade da prática docente. As interferências dos atores institucionais, enquanto fenômenos externos foram confirmados nesse cenário, e, relatórios de atividades dos sujeitos curriculares foram sinalizadores de aproveitamento da prática docente partindo da fala dos sujeitos trazendo a esperança de um currículo emancipatório fortalecido com reflexões e proposituras.
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