DA CAÇA ÀS BRUXAS AO FEMINICÍDIO: COMO A EDUCAÇÃO PODE CONTRIBUIR COM ESTA QUESTÃO?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2020v18i1p408-429

Palavras-chave:

Igualdade de gênero, Feminicídio, Políticas públicas, Práxis pedagógicas.

Resumo

Este estudo foi desenvolvido a partir do aumento da violência contra as mulheres, nomeada como “feminicídio”, e da temática da “igualdade de gênero”, tendo como cenário desencadeador a supressão do termo “gênero” em documentos relevantes como o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O objetivo foi compreender como a educação pode contribuir com a formação humana a partir das questões de “igualdade de gênero”, das relações entre “misoginia e machismo”, em busca de reduzir o número de feminicídios, além de compreender o impacto curricular da supressão do termo “gênero” na formação integral dos educandos e a materialização da retomada do pensamento conservador no campo educacional. Pautou-se em uma revisão bibliográfica de caráter qualitativo, entrelaçado às Políticas Públicas que versam sobre os direitos da mulher e o aporte teórico sobre a violência de gênero: Brasil (1988, 2015a, 2015b); Cerqueira et al. (2018); Saffioti (2004); Federici (2017); Martins (2013); Perrot (2005). O aumento das mortes de mulheres enquadradas na tipificação feminicídio aponta existir uma relação com a condição de gênero. Observou-se que o corpo feminino foi socialmente construído para ser dominado pelo masculino. Embasada pelos Direitos Humanos e a eliminação de toda forma de discriminação contra a mulher, reconhece-se que a construção de projetos pedagógicos, em parceria com as famílias, seja uma forma de enfrentamento, principalmente ao promover uma reflexão-ação sobre como educar os meninos e as meninas para o respeito às diferenças.

Biografia do Autor

Viviane Martins Vital Ferraz, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM)

Licenciada em Pedagogia com Habilitação em Educação Infantil, Administração Escolar e Magistério das séries iniciais pela Universidade Castelo Branco (2002); especialização em Psicopedagogia e Orientação Educacional pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006); especialização em Docência do Ensino Superior pela Faculdade São José - Rio de Janeiro (2007); Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria-UFSM (2010). Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS). Professora concursada da Secretaria Municipal de Educação do RJ e da Secretaria Estadual de Educação do RJ, apresentando-se atualmente em licença para acompanhar cônjuge. Experiência no Ensino Superior (Cursos de Graduação e Pós-graduação) e nos três níveis da Educação Básica, em instituições públicas e privadas. 

Fernanda Monteiro Rigue, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Licenciada em Química pelo Instituto Federal Farroupilha (2015) e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (2017). Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista Demanda Social CAPES. 

Cádia Carolina Morosetti Ferreira, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Maria (2011). Especialização em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria (2015). Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Assistente em Administração da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).

 

Rosane Carneiro Sarturi, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Imaculada Conceição (1984), pós-graduada em Currículo por Atividades (1986), pós-graduada em Orientação Educacional (1991), Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (1999) e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Pós-doutorado em Políticas Públicas na Universidade de Valência - Faculdade de Filosofia e Ciência da Educação como bolsista CAPES/Fundação Carolina (2010-2011). É professora Associada III da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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Publicado

2020-03-31

Edição

Seção

Artigos