SENTIDOS DE INTEGRAÇÃO CURRICULAR NAS REFORMAS RECENTES DO ENSINO MÉDIO: ENTRE AS ÁREAS DO CONHECIMENTO E A ORGANIZAÇÃO DISCIPLINAR
DOI:
https://doi.org/10.23925/1809-3876.2019v17i4p1587-1603Palavras-chave:
História do Currículo, Integração curricular, Áreas do Conhecimento, Disciplinas Escolares.Resumo
O trabalho investiga os sentidos de integração curricular produzidos, disputados e fixados no tempo presente, focalizando as políticas para o Ensino Médio no Brasil e, em particular, para a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. São investigados documentos oficiais das reformas recentes para esse nível de ensino: os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Reforma do Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular. A ideia foi analisar as regulações e efeitos dessas políticas, tomando como referência um histórico e importante embate que se explicita e ganha força entre as áreas do conhecimento e as disciplinas escolares. No diálogo com Michel Foucault, curriculistas (como Thomas Popkewitz e Stephen Ball) e historiadores (Reinhart Koselleck, por exemplo), é assumida uma abordagem discursiva para a produção de uma História do Currículo do Presente. Tomando a interdisciplinaridade como o significado hegemônico que a integração curricular veio assumindo historicamente, se analisam os deslocamentos do discurso reformista na direção das áreas do conhecimento, ainda que regulado pelas regras e padrões da organização disciplinar. Nesse movimento, o termo disciplina escolar vai deixando de ser enunciado, em um movimento que desloca os sentidos de integração curricular no diálogo com os componentes curriculares. As noções de competências e habilidades vão se transformando em elementos de adjetivação do conhecimento disciplinarizado, produzindo efeitos no modo como passamos a pensar a ‘validade’ daquilo que ensinamos e aprendemos no ensino médio, assim como os nossos papéis como professores e estudantes nesse nível da educação básica.
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