A contranarrativa da e sobre a Mulher Negra Gestante

uma contraposição ao a-historicismo estadunidense

Resumen

As narrativas históricas dos ingroups formados por sujeitos brancos nos contam apenas uma única versão da história, ocultando toda experiência vivenciada pelo negro, tanto no passado como na contemporaneidade. Ademais, além da tentativa de emudecer nossa voz, o enunciado concreto-dialógico do branco busca apagar o elo entre as origens e a prática do racismo colonial e os crimes racistas da atualidade. Diante dessa realidade, intencionamos investigar sobre as relações dialógicas entre as contranarrativas de ex-escravizados e o dizer de gestantes negras na contemporaneidade, no tocante à realidade racista de violência obstétrica por elas vivenciadas nos Estados Unidos, indicando, portanto, a potencialidade do gênero discursivo contranarrativas como elemento adverso ao a-historicismo da branquitude hegemônica. Metodologicamente, pautamo-nos na Teoria Dialógica da Linguagem que nos oferece conceitos sobre dialogismo, signo e atitude responsiva ativa como categorias de análise. Para a investigação, o corpus desta pesquisa compreende as contranarrativas proferidas por mulheres negras grávidas: do ontem, ex-escravizadas (a partir do livro Nascidos na Escravidão: depoimentos norte-americanos); e do hoje, mulheres livres (com base em vídeos dos canais do youtube ABC News e Indiscutível com o Dr. Rashad Richey), que desvelam diferentes tipos de violência contra corpos femininos negros no momento do parto. A discussão teórica pauta-se em Tate (1997), Delgado (1998), Fiorin (2008), Bakhtin (2011 [1979]), Volóchinov (2019 [1926]; 2021 [1929]), Lister et al. (2019), Parron (2020), Arnold (2023), Odems et al., (2024), entre outros. Os resultados apontam para a relação entre os maus tratos de mulheres negras, durante o momento do parto, no contexto atual, e a violência e o descaso perpetrados contra as ex-escravizadas, reafirmando, portanto, que as relações dialógico-ideológicas são tecidas na arena discursiva de embates e de desacordos entre o negro e o branco estadunidense.