O caminho percorrido para a excelência dos cuidados ao recém-Nascido, após o nascimento

Autores

  • Anabela Figueiredo Escola Superior de Saúde - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
  • Maria do Carmo Sousa Escola Superior de Saúde - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,Vila Real https://orcid.org/0000-0002-7215-9307
  • Maria José de Oliveira Santos Escola Superior de Saúde - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real; UICISA: E_EsenfC/ESSIPV https://orcid.org/0000-0003-1253-2912

DOI:

https://doi.org/10.23925/2178-2911.2022v25espp75-87

Resumo

Resumo

O cuidar do recém-nascido tem passado por múltiplas transformações ao longo dos tempos. O aparecimento de novas tecnologias, a interdisciplinaridade do conhecimento, o contributo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras organizações responsáveis pela saúde da mulher e da criança, bem como a transformação nos contextos onde ocorre o nascimento, trouxeram um universo mais amplo aos cuidados imediatos ao recém-nascido. Tradicionalmente, a evolução das normas nos cuidados de promoção, prevenção e tratamento aos recém-nascidos derivaram da experiência, com uma lógica cultural, expressa em rituais e procedimentos. A partir do momento em que o parto passou a ser realizado de forma generalizada em ambiente hospitalar, o que em Portugal aconteceu no século XX, ao longo da década de 80, começaram a surgir orientações das Organizações internacionais da saúde sobre os cuidados imediatos ao recém-nascido. Estas decorreram de decisões e resoluções políticas com vista a uma qualidade de vida aceitável para todos até ao ano 2000 e de uma mudança de paradigma, no qual a mortalidade neonatal era reconhecida como um problema de saúde pública. Recomendava-se que logo após o nascimento, deveria haver uma atenção ao estado do recém-nascido, como parte integrante dos cuidados no parto normal.  Esta atenção emergiu da necessidade de se minimizarem as causas com impacto não só na taxa de mortalidade neonatal, ainda muito elevada nos finais do século XX, mas também na taxa de morbilidade e na qualidade de vida. Até ao início da década de 90, a separação entre a mãe e o bebé logo após o nascimento quase definia os modernos cuidados obstétricos e neonatais, motivada pelo uso generalizado das incubadoras e do leite artificial. A Declaração Innocenti, em 1990, foi um marco para a proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno e consequentemente para promover o contato precoce entre a mãe e o recém-nascido. Neste momento a OMS afirmava que a saúde e o bem-estar do recém-nascido, eram baseadas em quatro princípios de cuidado: um parto não traumático e limpo, manutenção da temperatura corporal, iniciação da respiração espontânea e amamentação após o nascimento (OMS, 1991). Nesta década, o início da prática da medicina baseada na evidência e estas recomendações ajudaram a restituir a importância dada ao contato precoce entre a mãe e o recém-nascido e à amamentação, para todos os bebés saudáveis, logo após o nascimento.  Nos últimos 30 anos, as diferenças mais visíveis são a diminuição do intervencionismo e o timing para os cuidados imediatos, dando-se um protagonismo especial à primeira hora de vida – a “Golden Hour”, que preconiza o adiamento de todos os cuidados não urgentes em pelo menos 60 minutos. Avanços científicos recentes relacionados com o papel do microbioma, da epigenética e a utilização da neuroimagem, fornecem novas explicações e sugerem que o contato pele a pele e a amamentação são determinantes importantes para a biologia reprodutiva dos seres humanos. O interesse em conhecer mais sobre a história e a evolução dos cuidados imediatos ao recém-nascido saudável, motivou-nos para uma revisão da literatura, da qual resultou este artigo. Este interesse resulta da necessidade de se aplicar este conhecimento ao ensino das disciplinas de saúde materna e infantil.

Palavras-chave: Cuidados de saúde; Cuidados imediatos ao recém-nascido; Cuidados pós-natais; Golden Hour; Recém-nascido.

 

Abstract

The care of newborns has gone through multiple changes over time. The emergence of new technologies, the interdisciplinary nature of knowledge, the contribution of the World Health Organization (WHO) and other organizations responsible for women and children's health, and the transformation in the birth contexts have brought a broader universe of immediate care of the newborn. Traditionally, the evolution of norms in the care of promotion, prevention, and treatment of newborns derived from experience, with a cultural logic and expressed in rituals and procedures. In Western society, this care is invariably associated with the evolution of care during childbirth. When childbirth started to occur in a generalized way in a hospital environment, which happened in Portugal in 80s of the 20th centuries, guidelines began to emerge from international health organizations on immediate care for newborns. These guidelines resulted from political decisions and WHO resolutions aiming to provide an acceptable quality of life for all by 2000 Additionally, neonatal mortality was recognized as a public health problem. It was recommended that right after birth, attention should be given to the state of the newborn as an integral part of normal birth care. This attention emerged from the need to minimize the causes impacting the neonatal mortality rate, which was still very high at the end of the 20th century, and the morbidity rate and quality of life. According to the WHO, the high mortality and morbidity rates resulted from inadequate care and the excessive use or misuse of technology, relatively cheap and straightforward (WHO, 1991). Until the early 1990s, the separation of babies and their mothers immediately after birth almost defined modern obstetric and neonatal care and was motivated by the widespread use of incubators and artificial milk. The Innocenti Declaration, in 1990, was a milestone for the protection, promotion, and support of breastfeeding and consequently for promoting early contact between mother and newborn. At this time, the WHO stated that the health and well-being of the newborn were based on four principles of care: a non-traumatic and clean delivery, maintenance of body temperature, initiation of spontaneous breathing, and breastfeeding after birth. The beginning of evidence-based medical practices and these recommendations helped restore the importance of early contact between mother and newborn and breastfeeding soon after birth for all healthy babies. In the last 30 years, based on the quality of evidence and recommendations of the organizations responsible for health, the most visible differences are the decrease in interventionism and the timing for immediate care, giving a special role to the first hour of life "Golden Hour," which advocates delaying all non-urgent care by at least 60 minutes. Recent scientific advances related to the role of the microbiome and epigenetics and the use of neuroimaging provide new explanations and suggest that skin-to-skin contact and breastfeeding are important determinants of the reproductive biology of human beings. The interest in knowing more about the history and evolution of immediate care for the newborn motivated us to do literature research, which resulted in this article. This interest results from the need to apply this knowledge to the teaching of maternal and child health subjects.

Keywords: Health care; Immediate care; Postnatal care; Golden Hour; Newborn.

 

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Publicado

2022-09-29

Edição

Seção

História da Ciência e Ensino