Conhecimento dos professores sobre geometria nos anos iniciais do ensino fundamental: uma visão do estado da arte<br>Teachers' knowledge of geometry in the early years of elementary school: a state of the art

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1983-3156.2021v23i1p79-111

Palavras-chave:

geometria, conhecimento de professores, Educação Matemática.

Resumo

Resumo

Neste artigo, a partir de um estudo do estado da arte, analisa-se o tema conhecimento geométrico de professores dos anos iniciais em pesquisas em educação matemática realizadas no Brasil num intervalo de 19 anos, entre 2000 e 2019. A leitura de 31 estudos em nível de mestrado e doutorado apontam que entre os aportes teóricos que embasam o conhecimento geométrico do professor, destacam-se os de Shulman (1986, 1987) e Tardif (2002). Ao longo dos anos, esses modelos teóricos tornaram-se as principais referências para análise do conhecimento/saberes de professores. Em relação aos objetivos, a maioria dos estudos buscava analisar ou identificar como a formação em serviço ou formação continuada pode influenciar na mobilização de conhecimentos/saberes pelos professores. Embora o objeto de análise fosse praticamente o mesmo e os estudos utilizassem uma abordagem qualitativa, os procedimentos metodológicos eram diversificados, incluindo estudo de caso, pesquisa-ação e análise documental. Como instrumentos de coleta de dados destacaram-se diagnósticos; registros produzidos pelas participantes; diário de campo da pesquisadora; gravações em áudio e/ou vídeo e produção de sequências didáticas, entre outras. Observou-se uma tendência em coletar informações por meio de encontros formativos, oficinas e laboratórios de matemática, possivelmente para que os pesquisadores interviessem no desenvolvimento do conhecimento geométrico dos professores. Os resultados das pesquisas analisadas apontam para fragilidades no conhecimento conceitual e prático dos professores em relação à geometria. Também indicam que os processos formativos possibilitam mudanças no conhecimento conceitual e na prática educativa a partir da reflexão dessa prática e da construção de aprendizagens.

Palavras-chave: Geometria, Conhecimento de professores, Educação Matemática.

Abstract

In this article, based on a state of the art study, we analyse the theme of geometric knowledge of teachers of the early years in mathematics education in research carried out in Brazil between 2000 and 2019. The reading of 31 studies at the master’s and doctoral level points out that among the theoretical contributions that support the teacher’s geometric knowledge, Shulman’s (1986, 1987) and Tardif’s (2002) stand out. Over the years, these theoretical models have become the main references for the analysis of teachers’ knowledge/know-how. Regarding the objectives, most studies sought to analyse or identify how in-service education or continuing education can influence the teachers’ mobilisation of knowledge/know-how. Although the object of analysis was practically the same and the studies used a qualitative approach, the methodological procedures were diverse, including case study, action research, and documentary analysis. As instruments of data collection, we highlight the diagnoses; registers produced by the participants; researcher’s field diary; audio and/or video recordings and production of didactic sequences, among others. There was a tendency to collect information through formative meetings, workshops, and mathematics laboratories, possibly for researchers to intervene in the development of teachers’ geometric knowledge. The results of the studies analysed point to weaknesses in the teachers’ conceptual and practical knowledge of geometry. They also indicate that the education processes enable changes in conceptual knowledge and educational practice based on the reflection of this practice and the construction of learning.

Keywords: Geometry, Teachers’ knowledge, Mathematics education.

Resumen

En este artículo, basado en un estudio del estado del arte, se analiza el tema conocimiento geométrico de los docentes de los años iniciales en investigaciones en educación matemática realizadas en Brasil entre 2000 y 2019. La lectura de 31 estudios a nivel de maestría y doctorado señala que entre los aportes teóricos que sustentan el conocimiento geométrico del docente, se destacan los de Shulman (1986, 1987) y Tardif (2002). A lo largo de los años, estos modelos teóricos se han convertido en los principales referentes para el análisis del conocimiento docente. En cuanto a los objetivos, la mayoría de los estudios buscaban analizar o identificar cómo la formación en servicio o continua puede influir en la movilización de conocimientos por parte de los docentes. Aunque el objeto de análisis fue prácticamente el mismo y los estudios utilizaron un enfoque cualitativo, los procedimientos metodológicos fueron diversos, incluyendo el estudio de casos, la investigación-acción y el análisis de documentos. Como instrumentos de recolección de datos, se destacaron los diagnósticos; registros producidos por los participantes; diario de campo del investigador; grabaciones de audio y/o video y producción de secuencias didácticas, entre otros. Hubo una tendencia a recolectar información a través de reuniones formativas, talleres y laboratorios de matemáticas, posiblemente para que los investigadores intervinieran en el desarrollo del conocimiento geométrico de los docentes. Los resultados de las investigaciones analizadas apuntan a debilidades en los conocimientos conceptuales y prácticos de los docentes en relación con la geometría. También indican que los procesos de formación posibilitan cambios en el conocimiento conceptual y la práctica educativa a partir de la reflexión de esta práctica y la construcción de aprendizajes.

Palabras clave: Geometría, Conocimiento de los profesores, Educación matemática.

Metrics

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Luciana Ferreira Santos, Prefeitura da Rede Municipal de Olinda

Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (2007), mestrado (2010) e doutorado (2019) em Educação Matemática e Tecnológica pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica - EDUMATEC/ UFPE . Participa dos grupos de estudo e pesquisa em Educação Matemática: SEMEAR e Pró-Grandeza. Atua como docente dos anos iniciais nas redes municipais de Olinda e Paulista em Pernambuco. Desenvolveu atividades de formação continuada pelo Núcleo de Educação Matemática - NEMAT (2011-2014) e Centro de Estudos em Educação e Linguagem - CEEL/UFPE (2014- 2019).Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Matemática, Alfabetização e Linguagem, atuando principalmente nas temáticas: análise de livros didáticos, conexões entre geometria e artes visuais, grandezas e medidas; ensino de matemática no Ciclo de Alfabetização; jogos; apropriação do sistema de escrita; leitura e literatura, oralidade e formação inicial e continuada de professores.

Rosinalda Aurora de Melo Teles, Universidade Federal de Pernambuco

Doutorado em Educação

Referências

ALMEIDA, J. X. (2015) As concepções de professores ao ensinar quadriláteros nos anos inciais do Ensino Fundamental e as possibilidades de contribuições das TIC. 2015. 135 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática e Ensino de Física) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

ALMEIDA, M. V.; SILVA, T. H.; ALBRECHT, E. (2015). Contribuições de professores formadores sobre o conhecimento profissional docente em álgebra. 4º SIPEMAT, jun./jul.2015. IV SIPEM, Ilheus, BA, 2015. Anais [...].

ALSINA, C. P. (1999) Geometria no currículo de matemática. In: VELOSO, E. et al. (Org.). Ensino da geometria no virar do milénio, 65. Lisboa: Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

AMARILHA, L. A. S. (2009). Saberes e fazeres docentes referentes ao ensino das formas geométricas nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. 156 f. Dissertação (Mestrado) – Programa De Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS.

BALL, D. L.; THAMES, M. H.; PHELPS, G. (2008). Content knowledge for teaching: What makes it special? Journal of Teacher Education, 59, n. 5, Nov./Dec. p. 389-407.

BALL, D. L.; GOFFNEY, I. M.; BASS, H. (2005). The role of mathematics instruction in building a socially just and diverse democracy. The Mathematics Educator,15(1), p. 2-6.

BARBOSA, C. P. (2011). O pensamento geométrico em movimento: um estudo com professores que lecionam matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública de Ouro Preto (MG). 186 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática) – Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais.

BRASIL. (2018). Base Nacional Curricular Comum (Educação Infantil e Ensino Fundamental). Brasília, DF: MEC.

BRASIL. (1998) Referencial Curricular para Educação Infantil. Brasília, DF: MEC.

BRASIL. (1997) Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC. (v. 6: Arte; v. 3: Matemática).

BORGES, M. M. A. (2009) geometria nos anos iniciais do ensino fundamental: novas perspectivas. In: XXV CONADE – UFG, Goiás, Brasil.

CANDAU, V. M. F. (1999) Universidade e formação de professores: Que rumos tomar? In: CANDAU, V. M. F. (Org.). Magistério, construção cotidiana. Petrópolis: Vozes.

CARVALHO, H. A. F.; FERREIRA, A. C. (2016). O conhecimento matemático para o ensino de geometria na visão de três professores dos anos iniciais do ensino fundamental. XII ENEM, São Paulo, SP, 13 a 16 de julho de 2016. Anais [...].

CURI, E. (2004). Formação de professores polivalentes: uma análise do conhecimento para ensinar matemática e crenças e atitudes que interferem na constituição do conhecimento. 278 f. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifica Universidade Católica de São Paulo, PUC, São Paulo.

DUMONT, A. H. (2008). Um estudo de caso sobre aspectos do conhecimento profissional de professoras que ensinam geometria em turmas de quarta série. 97 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pósgraduação em Educação Agrícola, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ.

ETCHEVERRIA, T. C. (2008)Educação continuada em grupos de estudos: possibilidades com foco no ensino da geometria. 102 f. Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

FAINGUELERNT, E. K.; NUNES. K. R. A. (2006) Fazendo Arte com Matemática. Porto Alegre: Artmed.

FLORES, C. R.; WAGNER, D. R.; BURATTO, I. C F. (2012) Pesquisa em Visualização na Educação Matemática: Conceitos, Tendências e Perspectivas. Educação Matemática Pesquisa (Impresso), v. 14, p. 31-45.

GAUTHIER, C. et al. (1998). Por uma teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí.

GONSETH, F. (1945). La Géométrie et le problème de l’espace. Neuchatel: Griffon.

GUTIÉRREZ, A. (1996) Visualization in 3-Dimensional Geometry: In Search of a Framework. University of Valence, Spain. Disponível em: http://www.uv.es/Angel.Gutierrez/archivos1/textospdf/Gut96c.pdf . Acesso em: 25 fev. 2018.

HARTING, S.C. (2013). Formação continuada de professores: um olhar sobre as práticas pedagógicas na construção de conhecimentos geométricos. 117f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) – Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

HOFFER, A. (1981). Geometria é mais que prova. Journal Mathematics Teacher, janeiro de 1981. Disponível em: https://www.ime.usp.br/~brolezzi/publicacoes/geometria.pdf. Acesso em: 20 jan. 2018.

HOMEN, P. M. Concepções de professores dos anos iniciais do ensino fundamental sobre o ensino de geometria: uma análise pós-construtivista. 117 f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) – Universidade do Rio Grande do Sul, URS, Porto Alegre, RS, 2013.

MARQUESIN, D. F. B.; NACARATO, A. M. (2011) A prática do saber e o saber da prática em geometria: análise do movimento vivido por um grupo de professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Zetetiké, Cempem, FE, Unicamp, v. 19, n. 35, jan./jun.

MORIN, E. (2008) A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Elóa Jacobina, 14ª edição, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

NACARATO, A. (2000). Educação continuada sob a perspectiva da pesquisa-ação: Currículo em ação de um grupo de professoras ao aprender ensinando Geometria. 330f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas.

NACARATO, A. M.; PASSOS, C. L. B. (2003). A geometria nas séries iniciais: uma análise sob a perspectiva da prática pedagógica e da formação de professores. 1. ed. v.1. São Carlos: Ed. UFRSCar.

NCTM. Principles and standards for school mathematics. National Council of Teachers of Mathematics. Disponivel em: http://standards.nctm.org/. Acesso em: 20 nov. 2016.

PANIZZA, M. (2006) A direita... de quem? Localização espacial na educação inicial e nas séries iniciais. In: Panizza, M. (Org.). Ensinar Matemática na Educação Infantil e nas Séries Iniciais: análise e propostas. Porto Alegre: Artes Médicas.

PASSOS, C. L. B. (2000) Representações, interpretações e prática pedagógica: a Geometria na sala de aula. Tese (Doutorado em Educação) – Unicamp, Campinas.

PAVANELLO, R. M. (1993). O abandono do ensino da Geometria no Brasil: causas e consequências. Revista Zetetiké, Campinas, Unicamp, ano 1, n. 1.

RAMALHO, B. L.; NUÑEZ, I. B.; GAUTHIER, C. (2003). Formar o professor, profissionalizar o ensino: perspectivas e desafios. Porto Alegre: Sulina.

SILVA, A. G. (2014). O professor dos anos iniciais e o conhecimento da geometria. 184 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) – Universidade Federal de Alagoas. Maceió, AL.

SILVA, S. H.; SANTANA, L. E.; OLIVEIRA, R. M. (2016). Saberes docentes sobre o ensino da geometria nos anos iniciais do ensino fundamental. XII Encontro N acional de Educação Matemática. São Paulo, SP, 13 a 16 julho 2016. Anais [...].

SHULMAN, L. (1986). Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Research, n. 15, 5, p. 4-14. Disponível em: http://www.ugr.es/local/recfpro/Rev92ART1.pdf. Acesso em: 20 abr. 2015.

SOARES, M. B. (1989). Alfabetização no Brasil: o Estado do Conhecimento. Brasília, DF: INE; Santiago: Reduc.

TARDIF, M. (2002) Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes.

TARDIF, M.; LESSARD, C.; GAUTHIER, C. (2001). Formação dos professores e contextos sociais. Porto: Rés.

USISKIN, Z. (1982) Van Hiele levels and Achievement in Secondary School Geometry. Final report of the CDASSG Project. Chicago: Univ. of Chicago.

VASCONCELOS, M. (2008). A diferenciação entre figuras geométricas não planas e planas: o conhecimento dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental e o ponto de vista dos professores. Zetetiké, Cempem, FE, Unicamp, v. 16, n. 30, jul./dez. 2008.

VAN HIELE-GELDOF, D. (1973) The didactics of geometry in the lowest class of secondary school. 206 f. Tesis (Doctoral) – Universidad de Utrecht: Utrecht. Traducción al inglés en Fuys.

VISEU, F.; MENEZES, L.; ALMEIDA, J. (2013).Conhecimento de geometria e perspetivas de professores do 1º ciclo do ensino básico1 sobre o seu ensino. REVEMAT, Florianópolis, SC, v. 8, n. 1, p. 156-178.

Downloads

Publicado

2021-04-11

Como Citar

SANTOS, L. F.; TELES, R. A. de M. Conhecimento dos professores sobre geometria nos anos iniciais do ensino fundamental: uma visão do estado da arte&lt;br&gt;Teachers’ knowledge of geometry in the early years of elementary school: a state of the art. Educação Matemática Pesquisa Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 79–111, 2021. DOI: 10.23925/1983-3156.2021v23i1p79-111. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view/47093. Acesso em: 22 dez. 2024.