CINEMA NA ESCOLA: UMA MÁQUINA DE GUERRA CONTRA A VIOLÊNCIA PERFORMÁTICA NARCISISTA?
DOI:
https://doi.org/10.23925/1809-3876.2019v17i1p282-303Palavras-chave:
Currículo, Conhecimento, Cultura.Resumo
No contexto atual das políticas de currículo se vê proliferar nas escolas um novo gerencialismo que sai do setor privado e invade o setor público com vistas a qualificar o processo de gerência e melhorar os resultados. Esse novo gerencialismo, conforme Ball (2006) vai produzindo uma cultura da performatividade, constituindo corpos cada vez mais preocupados com os resultados, o desempenho e a qualificação de si. Mas, para além de um corpo-performático e polivalente, a cultura da performatividade produz uma violência narcisista a nível das pequenas diferenças correlatas à produção e a exclusão do outro no contexto escolar. O que se pretende com esse texto é pensarmos a contingência das violências produzidas pela escola contemporânea através da cultura da performatividade, e no contrafluxo, questionar: pode o cinema se colocar como máquina de guerra na produção de linhas de fuga aos desejos imanentemente agressivos no sentido de potencializar outra ética para a existência que exceda a da lógica neoliberal performática? Chamamos para a discussão e composição desse pensamento alguns teóricos da perspectiva pós-estruturalistas: Foucault (1999, 2008, 2010), Deleuze (1988, 2013), Ball (2003, 2010), Skliar (2016), e outros que se debruçam nos estudos focados em cinema: Miranda (2015, 2016), Migliorin (2015), Oliveira Jr, (2016), Gonçalves (2014). Acreditamos que por meio de algumas experiências desenvolvidas pelo Laboratório de Estudos Audiovisuais-OLHO, novas pistas podem ser seguidas de forma a construir através do cinema outros corpos, outras éticas, outros modos e estilos de ser e estar na vida.
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