A favor de quem a BNCC trabalha?
A política do conhecimento oficial à luz das teorias críticas e sociológicas do currículo
DOI:
https://doi.org/10.23925/1809-3876.2024v22e61474Palavras-chave:
Base Nacional Comum Curricular, teorias do currículo, política do conhecimento oficialResumo
O artigo analisa as formas de organização do conhecimento escolar credenciadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), buscando desvelar interesses subjacentes às suas formulações. À luz das teorias críticas e sociológicas do currículo, este estudo parte do pressuposto de que a BNCC é um artefato cultural que organiza os saberes escolares de maneira interessada e seletiva. Por meio da análise documental, o trabalho infere que a BNCC, enquanto política do conhecimento oficial, é um documento produto de tensões, conflitos e relações de força estabelecidas entre grupos que buscam garantir o controle dos dispositivos educacionais no Brasil. O artigo conclui que as formas de organização do conhecimento escolar impostas na BNCC, sendo expressão das relações sociais de poder, transmitem visões sociais particulares, inculcando valores inerentes ao pragmatismo produtivo do capital-trabalho.
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