v. 23 n. 1 (2023): Religião e humor

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Na linguagem corrente, humor diz respeito a qualquer mensagem, verbal ou não-verbal, que provoca o riso, estratégia de comunicação muito amplificada pelas diferentes «mediasferas». Do riso como interdito ao riso de si pós-moderno, as modalidades são múltiplas. No mundo clássico, a semântica do humor aproxima-se das práticas da sátira, da ironia e do sarcasmo. A modernidade acrescentou-lhe o «nonsens». Do riso dos deuses homéricos às modernas caricaturas do divino, o mapa do humor é muito complexo. As táticas do humor desestabilizam as fronteiras do sagrado – incluindo o sagrado cívico. A história das tradições religiosas inclui uma certa vigilância sobre estas fronteiras. A paródia do “outro” foi muitas vezes um instrumento de dominação ou, inversamente, uma tática contra-hegemónica: discursos, performances, ritos, imagens, etc. Mas é necessário não esquecer que o humor (por exemplo, como estratégia literária) também foi um veículo de transmissão de mensagens religiosas, reunindo profetas, sábios e místicos. No contexto das múltiplas modernidades, os cenários diversificaram-se: o humor é utilizado para desconstruir a categoria da religião; para comentar o intervalo entre a ortodoxia e a práxis; para criticar práticas e representações religiosas; para introduzir margens de autocrítica no interior do próprio campo religioso; mas também como «medium» da própria mensagem religiosa, no plano de uma retórica da sedução. As fronteiras são, assim, muito porosas. Religião e humor relacionam-se sob o signo da ambivalência.

Publicado: 2023-07-27

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