“Da cerveja, cês não quer tirar a validade não?”
mulheres idosas alfabetizandas na EJA apropriando-se de práticas matemáticas hegemônicas
DOI:
https://doi.org/10.23925/1983-3156.2023v25i4p390-412Palavras-chave:
Mulheres idosas, Escolarização de pessoas idosas, Apropriação de práticas de numeramento escolare, Práticas matemáticas como práticas discursivas, Leitura e escrita de prazos de validadeResumo
O objetivo deste artigo é focalizar mulheres idosas alfabetizandas na Educação de Pessoas Jovens Adultas e Idosas (EJA), apropriando-se de práticas matemáticas hegemônicas, a que chamamos práticas de numeramento para destacar sua natureza discursiva. Analisamos a participação dessas mulheres nas interações discursivas durante uma atividade escolar proposta pela professora e desenvolvida dentro de um supermercado, que incluía fazer a leitura de prazos de validade de produtos industrializados. Essas interações, por sua dimensão histórica e por envolverem práticas matemáticas, são identificadas como eventos de numeramento. A atividade foi registrada em áudio, vídeo e apontamentos em diário de campo, e as interações foram cuidadosamente transcritas a partir desses registros. Nossa reflexão assume as contribuições teóricas dos estudos sobre envelhecimento, letramento e numeramento, apropriação de práticas sociais e constituição do sujeito e implica uma análise social do discurso. Nesta análise, tensionamos perspectivas sobre os processos de envelhecimento feminino e a produção de significados nas ações sociais que as alfabetizandas protagonizam quando se posicionam discursivamente e elaboram uma compreensão de como funciona o sistema de datação e dos significados semânticos e pragmáticos do registro de prazos de validade nas embalagens de produtos postos à venda. Assim, consideramos essa apropriação como instância de expressão dessas mulheres – e de sua continuada constituição – como sujeitos de aprendizagens e conhecimentos; de vivências e culturas; de memórias e esquecimentos; de direitos e expectativas.
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