Discutindo a neurodiversidade na Educação Matemática

as novas terminologias que emergem nessa discussão

Autores

  • Elton de Andrad Viana PUC-SP
  • Ana Lucia Manrique Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP

DOI:

https://doi.org/10.23925/1983-3156.2023v25i4p332-358

Palavras-chave:

Autismo, Neurodivergente, Neurodiverso, Neurominoria, Pressupostos

Resumo

Com o objetivo de explorar as terminologias, práticas e atitudes que permeiam a inclusão de estudantes neurodivergentes e que se mostram no vocabulário do professor de matemática, este artigo apresenta um estudo que respondeu à seguinte pergunta de pesquisa: quais são os pressupostos que podemos identificar no vocabulário de professores de matemática no que se refere à temática do autismo? Os dados produzidos no estudo se constituíram a partir de registros feitos por oito professores de matemática de duas escolas públicas da cidade de São Paulo respondendo um questionário on-line. A análise assume os princípios da neurodiversidade como um referencial teórico, e identifica três pressupostos no vocabulário dos professores participantes: (1) o reconhecimento das necessidades oriundas da neurodivergência como um critério para a validação da prática docente, sendo fundamental a busca de adequações, adaptações e apoio pedagógico que complemente o processo de inclusão escolar; (2) a introdução de terminologias oriundas do movimento da neurodiversidade; e (3) a explicação médica alinhada com as definições e descritores relacionados em manuais da área da saúde. Conclui-se que a neurodiversidade se mostra como um movimento com potencialidades para provocar mudanças no cenário educacional, principalmente por provocar o pensar de maneira sociológica e crítica, bases nas quais esse movimento se origina.

Metrics

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Elton de Andrad Viana, PUC-SP

Doutor em Educação Matemática

Ana Lucia Manrique, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP

Livre Docente em Educação Matemática

Referências

Abreu, T. (2022). O que é neurodiversidade? Cânone Editorial.

Americana Psychiatry Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-5. 5 ed. Washington: American Psychiatric Association.

Americana Psychiatry Association (2015). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Trad.: Maria Inês Corrêa Nascimento et al. 5 ed. Porto Alegre: Artmed.

Bailey, A., & Parr, J. (2003). Implications of the broader phenotype for concepts of autismo. In G. R. Bock & J. A. Goode (Eds.), Autism: neural basis and treatment possibilities (p. 26-47). Wiley-Blackwell.

Baker, D. L. (2011). The politics of neurodiversity: why public policy matters. Lynne Rienner Publishers.

Barbosa, M. G. (2012). Sob o signo da luz e das sombras: o imaginário da autonomia em educação. Linhas Críticas, 18(36), 249-264.

Barbosa, M. G. (2015). Educação e ambiguidades da autonomização: para uma pedagogia crítica da promoção do indivíduo autónomo. Revista Brasileira de Educação, 20(63), 995-1008.

Blume, H. (1997). Autistics are communicating in cyberspace. The New York Times, Nova York, 30 jun. 1997. Cybertimes Section. Disponível em: https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/library/cyber/techcol/063097techcol.html Acesso em 12 ago. 2023.

Blume, H. (1998). Neurodiversity: on the neurological underpinnings of geekdom. The Atlantic. Boston, set. 1998. https://www.theatlantic.com/magazine/archive/1998/09/neurodiversity/305909/

Chen, G. A., & Horn, I. S. (2022). A call for critical bifocality: research on marginalization in mathematics education. Review of Educational Research, 92(5), 786-828. https://doi.org/10.3102/00346543211070050

Coles, A. (2015). On enactivism and language: towards a methodology for studying talk in mathematics classrooms. ZDM Mathematics Educacion, 47, 235-246. https://doi.org/10.1007/s11858-014-0630-y

Constantino, C. D. (2018). What can stutterers learn from the neurodiversity movement ? Seminars in Speech and Language, 39(04), 382-396. https://doi.org/10.1055/s-0038-1667166

Cordeiro, J. P. (2015). Dos (des)caminhos de Alice no país das maravilhas ao autístico mundo de Sofia: a matemática e o teatro dos absurdos. [Dissertação de Mestrado em Educação em Ciências e Matemática, Instituto Federal do Espírito Santo]. https://repositorio.ifes.edu.br/handle/123456789/215

Couteur, A., Bailey, A., Goode, S., Pickles, A., Robertson, S., Gottesman, I., & Rutter, M. (1996). A broader phenotype of autism: the clinical spectrum in twins. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 37(7), 785-801. https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.1996.tb01475

Chrysochoou, M., Zaghi, A. E., & Syharat, C. M. (2022). Reframing neurodiversity in engineering education. Frontiers in Education, 7, 1-12. https://doi.org/10.3389/feduc.2022.995865

Cruz, P. S. G. (2022). Neurodiversidade (en)cena: gênero e sexualidade na série Atypical. [Dissertação de Mestrado em Educação, Universidade Estadual de Campinas]. https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/1253751

den Houting, J. (2019). Neurodiversity: an insider’s perspective. Autism, 23(2), 271-273. https://doi.org/10.1177/1362361318820762

Doyle, N. (2020). Neurodiversity at work: a biopsychosocial model and the impacto n working adults. British Medical Bulletin, 135(1), 108-125. https://doi.org/10.1093/bmb/ldaa021

Dwyer, P., Mineo, E., Mifsud, K., Lindholm, C., Gurba, A., & Waisman, T. C. (2023). Building neurodiversity-inclusive postsecondary campuses: recommendations for leaders in higher education. Autism in Adulthood, 5(1), 1-14. https://doi.org/10.1089/aut.2021.0042

Egner, J. E. (2019). ‘The disability rights Community was never mine’: neuroqueer disidentification. Gender & Society, 33(1), 123-147, https://doi.org/10.1177/0891243218803284

Ferreira, M. A. H. (2022). Indícios de representações sociais de professores de matemática sobre o pensamento algébrico de alunos autistas [Dissertação de Mestrado em Educação Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. https://repositorio.pucsp.br/bitstream/handle/26027/1/Maximiliam%20Albano%20Hermelino%20Ferreira.pdf

Fletcher-Watson, S. Neurodiverse or neurodivergent? It’s more than just grammar. DART: Development, Austism, Research, Technology, The University of Edinburgh, 3 jun. 2020. https://dart.ed.ac.uk/neurodiverse-or-neurodivergent/#:~:text=Judy%20Singer%20coined%20the%20word,in%20practice%2C%20nor%20in%20research.

French, L., & Kennedy, E. M. M. (2018). Annual research review: early intervention for infants and Young children with, or at-risk of, autismo spectrum disorder: a systematic review. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(4), 444-456. https://doi.org/10.1111/jcpp.12828

Gaviolli, I. B. (2017). Cenários para investigação e educação matemática em uma perspectiva do deficiencialismo. [Dissertação de Mestrado em Educação Matemática, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”]. https://repositorio.unesp.br/items/a290720f-3f11-491a-92a8-7883f89456a5

Guimarães, A. B. (2020). O processo de construção de um material educacional na perspectiva da educação matemática inclusiva para um aluno autista. [Dissertação de Mestrado em Educação em Ciências e Matemática, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro]. https://tede.ufrrj.br/jspui/bitstream/jspui/5993/2/2020%20-%20Am%c3%a1lia%20Bichara%20Guimar%c3%a3es.pdf

Guimarães, A. B., & Pinto, G. M. F. (2022). Residência pedagógica matemática, inclusão e ensino remoto: desdobramentos para a formação inicial e continuada e para a identidade profissional docente. Educação Matemática Pesquisa, 24(4), 360-384. http://dx.doi.org/10.23925/1983-3156.2022v24i4p360-384

Gutiérrez, R. (2013). The sociopolitical turn in mathematics education. Journal for Research in Mathematics Education, 44(1), 37-68. https://doi-org.ez95.periodicos.capes.gov.br/10.5951/jresematheduc.44.1.0037

Hamilton, L. G., & Petty, S. (2023). Compassionate pedagogy for neurodiversity in higher education: a conceptual analysis. Frontiers in Psychology, 14, 1-9. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2023.1093290

Herbel-Eisenmann, B., & Wagner, D. (2010). Appraising lexical bundles in mathematics classroom discourse: obligation and choice. Educational Studies in Mathematics, 75(1), 43-63. https://doi.org/10.1007/s10649-010-9240-y

Honneth, A. (2003). Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Ed. 34.

Jaarsma, P., & Welin, S. (2012). Autism as a natural human variation: reflections on the claims of the neurodiversity movement. Health Care Analysis, 20, 20-30. https://doi.org/10.1007/s10728-011-0169-9

Jannuzzi, G. M. (2012). A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI. 3 ed. São Paulo: Autores Associados.

Kitchen, R., Ridder, S. A., Bolz, J. (2016). The legacy continues: ‘the test’ and denying access to a challenging mathematics education for historically marginalized students. Journal of Mathematics Education at Teachers College, 7(1), 17-26. https://doi.org/10.7916/jmetc.v7i1.784

Larsson, H., Ancharsater, H., Rastam, M., Chang,, Z., & Lichtenstein, P. (2012). Childhood attention-deficit hyperactivity disorder as na extreme of a continuous trait: a quantitative genetic study of 8,500 twin pairs. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 53(1), 73-80. https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.2011.02467.x

Logan, J. (2020). Queer and neurodivergent identity production within the social media panopticon. The Macksey Journal, 1, 1-24.

Magne, O. (2003). Literature on special educational needs in mathematics: a bibliography with some comments. Malmo, Suécia: School of Education, Malmo University.

Melo, D. P., & Melo, V. P. (2015). Uma introdução à semiótica peirceana. Guarapuava: Unicentro.

Meyerding, J. (2014). Thoughts on finding myself differently brained. Autonomy, the Critical Journal of Interdisciplinary Autism Studies, 1(3), 1-10.

Miller, J. K. (2003). Women from another planet? Our lives in the universe of autismo. Authorhouse.

Moraru, C. (2023). La neurodiversité comme catégorie culturelle: des lieux artistiques pour créer des identités et comprendre les neurominorités. Espace, 133, 6-16.

Moreira, M. C. N., Dias, F. S., Mello, A. G., & York, S. W. (2022). Gramáticas do capacitismo: diálogos nas dobras entre deficiência, gênero, infância e adolescência. Ciência & Saúde Coletiva, 27(10), 3949-3958.

Oliveira, L., & Roehrs, R. (2023). Linguagem imagética na transposição da linguagem algébrica no ensino e aprendizagem da matemática. Ciência & Educação, 29, 1-17. https://doi.org/10.1590/1516-731320230006

Oliver, M. (1996). Understanding disability: from theory to practice. Mackays of Chatham.

Ortega, F. (2009a). Deficiência, autismo e neurodiversidade. Ciência & Saúde Coletiva, 14(1), 67-77. https://doi.org/10.1590/S1413-81232009000100012

Ortega, F. (2009b). The cerebral subject and the challenge of neurodiversity. Biosocieties, 4, 425-446. https://doi.org/10.1017/S1745855209990287

Orrú, S. E. (2009). Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar. Rio de Janeiro, Wak.

Osgood, R. (2006). Language, labels, and lingering (re)considerations: the evolution and fuction of terminology in special education. Ohio Valley Philosophy of Education Society, 37, 135-145.

Posserud, M. B., Lundervold, A. J., & Gillberg, C. (2006). Autistica features in a total population of 7-9-year-old children assessed by the ASSQ (Autism Spectrum Screening Questionnaire). Journal of Child Psychology and Psychiatry, 47(2), 167-175. https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.2005.01462.x

Russell, G. (2020). Critiques of the neurodiversity movement. In S. K. Kapp (ed.), Autistic community and the neurodiversity movement: stories from the frontline (p. 287-303). https://doi.org/10.1007/978-981-13-8437-0

Santaella, L. (2017) O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense.

Santos, R. G. C. (2021). Narrativas sobre o percurso formativo de autistas licenciados em matemática. [Dissertação de Mestrado em Ensino de Matemática, Universidade Federal do Rio de Janeiro]. https://pemat.im.ufrj.br/images/Documentos/Disserta%C3%A7%C3%B5es/2021/MSc_110_Renata_Gilaberte_Campos_dos_Santos.pdf

Sinclair, J. (1993). Don’t mourn for us. Our voice, the newsletter of Autism Network International, 1(3), 1-4.

Singer, J. (1999). ‘Why can’t you be normal for once in your life?’ From a ‘problem with no name’ to the emergence of a new category of difference. In: CORKER, M.; FRENCH, S. Disability discourse. Buckingham : Open University Press. p. 59-67.

Singer, J. (2016). Neurodiversity: the birth of an idea. Judy Singer.

Steer, C. D., Golding, J., & Bolton, P. F. (2010). Traits contributing to the autistic spectrum. PLoS ONE, 5(9), e12633.

Viana, E. A. (2019). Os pressupostos epistemológicos de uma pesquisa sobre o autismo: ultrapassando fronteiras. Anais da 23ª Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática (pp. 1-12). São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul – Unicsul. http://eventos.sbem.com.br/index.php/EBRAPEM/EBRAPEM2019/paper/viewFile/147/746

Viana, E. A. (2020). Pesquisar sobre o autismo na educação matemática: revisitando estudos e assumindo a neurodiversidade. Anais da 24ª Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática (pp. 1-12). Cascavel: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste. https://drive.google.com/drive/folders/157eMBDqiuxYD2f3i01yZlhmP7Ujw0ZRz

Viana, E. A. (2021). Pesquisar sobre a neurodiversidade na educação matemática: inquietações e nuances provocadas pela pandemia de Covid-19. Anais da 25ª Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática (pp. 1-9). Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. https://www.even3.com.br/anais/xxvebrapem/454352-pesquisar-sobre-a-neurodiversidade-na-educacao-matematica--inquietacoes-e-nuances-provocadas-pela-pandemia-de-cov/

Viana. E. A. (2023). O desenvolvimento do pensamento algébrico no âmbito da neurodiversidade. [Tese de doutorado em Educação Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo].

Viana, E. A., & Manrique, A. L. (2020). A neurodiversidade na formação de professores: reflexões a partir do cenário de propostas curriculares em construção no Brasil. Boletim Gepem, 76, 91-106.

Viana, E. A., & Manrique, A. L. (2022). Investigação sobre a neurodiversidade na educação matemática: fatores que emergem como importantes no discurso pedagógico. Anais do 14ª Encontro Nacional de Educação Matemática (p. 1-9). Edição virtual: Sociedade Brasileira de Educação Matemática – SBEM. https://www.even3.com.br/anais/xivenem2022/484270-investigacao-sobre-a-neurodiversidade-na-educacao-matematica--fatores-que-emergem-como-importantes-no-discurso-pe/

Walker, D. F. B. A., & Borges, F. A. (2022). Relações possíveis entre concepções e práticas docentes com estudantes autistas nas aulas de matemática. SciELO Preprints. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.5234

Walker, N. (2014). Neurodiversity: Some basic terms & definitions. https://neuroqueer.com/neurodiversity-terms-and-definitions/

Walker, N. (2021). Neuroqueer heresies: notes on the neurodiversity paradigma, autistic empowerment, and postnormal possibilities. Autonomous Press.

Walker, N., & Raymaker, D. M. (2021). Toward a neuroqueer future: an interview with Nick Walker. Autism in Adulthood, 3(1), 5-10. https://doi.org/10.1089/aut.2020.29014.njw

Wise, J. (2023). We’re all neurodiverse: how to build a neurodiversity-affirming future and challenge neuronormativity. Jessica Kingsley Publishers.

Young, I. M. (2011). Responsabilidad por la justicia. Madrid: Morata.

Publicado

2023-12-23

Edição

Seção

Educação Matemática de pessoas historicamente marginalizadas no contexto escolar